Os 32 policiais militares alvos de inquérito por “declarações” feitas após o episódio da tentativa de mega-assalto a uma empresa de transporte de valores em Guarapuava no mês de abril, estão na verdade sendo perseguidos pelo governo por expor suas opiniões, prejudiciais aos interesses eleitorais do governador Ratinho Junior.
Nesta quinta-feira (07) uma reportagem do Guarapuava Post revelou que agentes foram processados e podem ser punidos com o afastamento da Polícia Militar, depois de criticaram a falta de contingente e ainda desmentirem Ratinho Junior acerca de um suposto plano de contingenciamento, que segundo o governador estava preparado e fora colocado em prática assim que os criminosos iniciaram o ataque à cidade.
Na ocasião, o comandante-geral da PM, Coronel Hudson Leôncio, disse que o serviço de inteligência já sabia de um possível ataque:
Apesar disso, o Inquérito Policial Militar (IPM) respondido pelos servidores, não trouxe detalhes do teor das mensagens. Mas com exclusividade, a reportagem apurou e obteve acesso aos comentários feitos pelos PMs e que culminaram no processo, admitido como “absurdo” por parte do próprio comando da Polícia Militar do Paraná, que justificou dizendo que “apesar de parecer absurdo, é comum no meio dos militares”.
A realidade, porém, é mais crua que isso. A opinião esboçada pelos policiais que defenderam a cidade por conta própria no ato da invasão criminosa, e sem nenhum plano de contingência – como externado pelo governador – virou caso de perseguição, já que a repercussão dos fatos maculou a imagem do estado, e culminou até mesmo na queda do Secretário de Segurança à época.
A BandNews FM de São Paulo trouxe à tona que não havia nenhum plano:
A denúncia contra os 32 policiais apresentadas pelo Comando Regional da PM trás mensagens de teor brando, que caracterizam tão somente a opinião sem ofensas e dentro da realidade por parte dos agentes. As mensagens foram compartilhadas em grupos de WhatsApp, e trazem relatos indignados dos PMs com a morte do Cabo Ricieri Chagas, vítima de um disparo efetuado pelos bandidos no mega-assalto.
Quem fala que existiu plano de contingência que carregue essa cruz e se explique para família dele
Uma das mensagens encaminhadas por um policial alvo do IPM
Por conta das declarações, os policiais evolvidos foram enquadrados em artigos de crimes militares, que tratam sobre desacato e desrespeito com hierarquias e autoridades de estado. O fato, porém, é que o sentido dado ao suposto desacato é controverso, já que na prática o que existiu foram críticas à atuação, e não ofensas e calúnias, como sugere o IPM instaurado contra os servidores.

VEJA OUTRAS DECLARAÇÕES
- “Povo, acho que o senhor comandante da Cia já entendeu que respeitamos ele e outros apenas pela hierarquia e não pelas atitudes”, disse outro agente;
- “Poderia ter sido qualquer um de nós, infelizmente foi o cabo. Mas uma coisa é certa, quem falou essa frase jamais seria, porque toda noite tá no conforto do seu lar se utilizando dos nossos trabalhos para se promover”, escreveu outro PM;
- “A gente perdeu, não por eles fugirem ou por ninguém ter sido preso ou morto. Mas porque um irmão nosso pareceu pela má gestão do nosso batalhão”, comentou outro;
Agora a sociedade está sabendo o que está acontecendo, não adianta transferir os PMs pra dar um ‘cala boca’ na tropa
Afirmou outro militar nas mensagens
- “A única preocupação do ex-comandante era intervir pelos seus amigos em ocorrências e multas […] Somos apenas mais um, apenas um número. Você morre e amanhã a única importância é o teu lugar estar ocupado por alguém… Não se tem empatia alguma”, acusou outro militar, com mais contundência.
- “Tenho saudade de quando eu estava na faculdade. Lá eu erguia a mão e opinava no parecer de um doutor. Aqui tenho alguém não habilitado para me chamar a atenção como dirijo. Aqui tenho um alguém que não usa arma, mas ensina abordagem e o pior ‘vidente’ dizendo onde devo estar parado pra combater o crime, independente do dia”, desabafou outro agente.
A reportagem do Guarapuava Post entrou em contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública para comentar o assunto, mas ninguém se posicionou sobre o caso.
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